quinta-feira, 26 de novembro de 2009

"A noite de ano novo" Capítulo 26

A maré de sorte dava as suas caras.
O problema é que Coutinho custava a admitir que não estava a seu favor. Descobrir que Ricardo havia feito o crime mudava tudo, e por um simples fato: ao começar as investigações, tinha deixado Ricardo por último, então, a não ser a confissão ouvida de forma ilegítima na Igreja, não tinha nada contra Ricardo.
Eduardo havia aberto uma filial, sem a concessão do sócio, e todos sabiam disso. Mas precisava mais do que isso para incriminar alguém, e não seria fácil já que a polícia era a única com acesso ao local do crime.
A casa de Ricardo era a segunda opção provável, se ao menos Coutinho tivesse seus privilégios de policial talvez conseguisse um mandado. Com saudades, foi no armário e viu seu velho distintivo e uniforme.
Como se a nostalgia fosse bruscamente arrancada por uma idéia brilhante, seu olhar mudou.
Medidas drásticas se faziam necessárias.
Esse crime valia por sua vida.
Era hora de arriscar o próprio pescoço para viver mais uma vez uma aventura.
- Vergonha é o medo dos fracos. – Esse sempre fora seu lema.
Vestiu-se e saiu.
O Tenente Coutinho estava de volta.
Tanto tempo sendo somente o vizinho do prédio ao lado fez com que Coutinho conhecesse a casa perfeitamente. Porém só quando olhada de cima.
De dentro, teve que se esforçar para fazer um mapa em sua cabeça indicando para que lado devia ser o quarto em que o fogo foi colocado. Por Ricardo. Saber isso fazia com que quase andasse saltitando.
Havia resolvido um crime depois de tantos anos.
Chegou na porta do quarto e viu que o trabalho não seria fácil. Fogo fazia com que evidências fossem queimadas e, as que se mantinham, fossem mexidas pelo corpo de bombeiros para evitar novos focos de incêndio.
Olhou para os dois lados antes de entrar no quarto.
Porém nunca chegou realmente a entrar.
Por uma coincidência do destino o quarto ao lado era o de Eduardo. Mas não era isso que havia chamado sua atenção.
Havia fuligem na maçaneta.
Se Isabel usava aquele quarto para dormir, certamente usaria a porta e a sujeira sairia. Talvez nunca teve coragem de voltar ao quarto do casal. Agora que sabia que a moça era inocente, viu como foi duro ao duvidar da insônia da pobre coitada.
Tentou entrar no quarto que era de Eduardo mas a porta estava trancada.
De acordo com o que acompanhou, a policia já havia revistado o quarto. Se algo mudara depois da inspeção a ponto de fazer com que ele fosse trancado, precisava descobrir.
Já que naquela hora do dia somente empregados estavam em casa, pediu para uma abrir a porta para ele.
Após uma faxineira abrir, disse que “Dona Isabel havia mandado nos manter afastadas dali”.
A prova do crime estava mais exposta do que Coutinho havia imaginado.
Lá, no aparelho de fax, uma folha só:

Tudo que eu senti por você, foi posto a prova e eu falhei. Mostrei que meu egoísmo era maior que qualquer coisa, e nunca superei os fatos. Eduardo abrindo aquele filial... e de não ser ao meu lado que você dançava. Peço desculpas por toda a dor que lhe causei ao tirar a vida de seu marido. Pretendo fugir. Saiba que nunca deixei de te amar em nenhum dia da minha vida, espero que me perdoe.
Com amor, R..


A mensagem datava o dia atual, alguns minutos mais cedo.
Isabel não havia visto.
Coutinho tinha que pegá-lo antes que o desgraçado fugisse.

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